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Quinta semana (Relato do professor)

março 21, 2008

“Escriba”, do latim scriba, ou “copista”, do francês copiste, são sinônimos de uma das profissões mais antigas do mundo e que, com a invenção da imprensa por Gutemberg, deixou de existir da mesma forma como muitas profissões atuais estão desaparecendo.

Com a tecnologia da impressão tipográfica, as pessoas cuja profissão consistia em “copiar textos manualmente” deixaram de ter importância e foram substituídas por maquinas burras e rápidas que fazem milhares de cópias perfeitas e baratas. Não me canso de contar essa história para meus aluninhos queridos toda vez que os vejo preocupadíssimos em “copiar algo” e pouco dispostos a “produzir algo”.

Alguém os ensinou, desde há muito tempo, que o “bom aluno” é aquele que tem o caderno bonitinho, com tudo copiado certinho da lousa, e que isso basta para o que se espera deles na escola. E esse “ensinamento” foi tão profundo e bem feito que mesmo agora, no Ensino Médio, me vejo rotineiramente no meio de alunos que querem saber se “é preciso copiar no caderno” ou, que ficam à espreita, como hienas copistas, à espera de um colega presa-fácil para atacar e copiar. Esses alunos acreditam que se tiverem algo copiado em seus cadernos, não importando o que seja e nem que valor tenha, menos ainda quem seja o autor, isso será suficiente para “demonstar por A + B” que eles “estão participando, estudando e aprendendo”. Depois, orgulhosos, mostrarão o caderno cheio de cópias para a mamãe e para o professor e, imbuídos de um profundo senso de dever cumprido, reivindicarão o status de “bons alunos”.

O Jornal do Aluno está repleto de propostas de pesquisas, mas a sala está repleta de alunos indispostos a pesquisar. Quando o fazem acreditam que “a coleta de informações” é suficiente (e aí tenho que lhes dizer novamente que já fomos caçadores e coletores, mais isso foi a milhares de anos atrás, antes de inventarmos a civilização). Ver exigido pelo professor que se saiba o que foi coletado, para que serve, de onde foi extraído e qual a relevância disso para o assunto pesquisado, bom, isso é coisa de professor cruel que gosta de massacrar o pobre aluno. Alguns, muitos, alunos resolvem esse dilema da forma mais simples possível: “esqueci de pesquisar”. 🙂

Propostas interessantes que sugerem aos alunos que façam estimativas, por exemplo, viram balcão de chutes. E lá vamos nós de novo, agora para ensinar aos alunos como se faz estimativas. Vamos com fé e paciência tentar convencer o aluno de que ele pode imaginar um caramujo (e provavelmente já tenha visto vários deles na vida) e então estimar a distância que ele anda em um minuto para, dessa forma, poder ter uma estimativa da velocidade do pobre molusco gastrópode…

Todas essas “coisas banais” faltam a muitos alunos, assim como falta saber que se deve multiplicar e dividir antes de somar e subtrair; que frases são mais compreensíveis quando têm sujeito e predicado (ainda que não haja muita concordância e sobrem erros ortográficos); que grandezas têm unidades e que ninguém em sã consciência, exceto, talvez, nas aulas de física, diria para o colega que tem uma altura de 1,8 km/h ou que um saquinho de açúcar tem massa de 1 h.

Essa é minha “avaliação superficial” do impacto do uso do Jornal do Aluno por alunos que passaram oito anos na escola fundamental e não só não aprenderam quase nada como também desaprenderam que podem aprender. “Passar matéria na lousa” (ô expressãozinha miserável essa!!!) ou “vomitar conteúdo” (professores preferem mais essa última) é ótimo para “cumprir programação”, para “dar conta do currículo” e para “encher cadernos para mamãe ver e cadernetas para o coordenador/supervisor vistar com vista grossa” mas, definitivamene, não têm nenhum impacto na aprendizagem se o foco dessa não for no desenvolvimento das tais “habilidades” de que tanto se tem falado na última década.

Na contrapartida, para focar na aprendizagem, é preciso ter em mente que o aluno do primeiro colegial chega no Ensino Médio, aos 14 ou 15 anos, com uma bagagem de habilidades e competências equivalente a esperada para um aluno da terceira ou quarta série do Ensino Fundamental. Querer que esse aluno dê um “salto qüântico” para uma órbita de quatro ou cinco “anos pedagógicos” à frente não chega nem a ser utopia, me parece falta de realismo científico mesmo. Que a educação não é uma ciência exata, sabemos todos nós, mas daí a aplicar métodos de curanderismo pedagógico já é exoterismo demais.

Nessa avaliação preliminar sobre as práticas desenvolvidas com o Jornal do Aluno já se pode tirar muitas lições importantes. Vou tentar resumí-las (as que eu creio que tirei dessa experiência) no final desse período, depois de 30/03. Adianto desde já que estou profundamente satisfeito com a experiência e que pela primeira vez posso confrontar diretamente “as crenças e mitos teórico-norteadores”, expressas em determinadas diretrizes, orientações e discursos políticos, com a realidade nua, crua e insistentemente ignorada das salas de aula. Talvez esse contraponto entre a realidade e a “inspiração” possa ajudar a nortear o planejamento para o resto do ano e, com um pouco mais de fé, talvez também ajude a aclarar um pouco mais o caráter subjetivo com que avaliações como o SARESP podem nortear currículos e propostas.

Esperemos pela sexta semana…

Quarta semana (Relato do professor)

março 16, 2008

Nessa quarta semana aproveitei para para implementar alguns redirecionamentos em algumas turmas. Algumas classes trabalham bem em grupos, outras não. Enquanto que o trabalho em grupo favore a aprendizagem em muitas ocasiões, em outras ele apenas desestimula a aprendizagem e dá oportunidade para que os alunos dispersem de vez em relação aos objetivos da aula.

Trabalhar em grupo é uma questão de “aprendizagem” (nem todos os alunos sabem aproveitar as oportunidades do trabalho em grupo) e depende fortemente das experiências anteriores dos alunos. Alunos dos segundos e terceiros anos tendem a trabalhar melhor em grupos do que os alunos do primeiro ano, mas isso não é uma regra confiável.

Um ponto interessante que observei nessa quarta semana é que não consigo me adaptar de forma satisfatória à proposta da recuperação. Eu sei que o foco dessas aulas é o reforço de atividades com ênfase em aspectos matemáticos e linguísticos, mas não consigo me esquecer de que sou professor de Física e que quero que meus alunos aprendam o máximo possível de Física. Isso faz com que para mim um gráfico não seja “apenas um gráfico” e que o pano de fundo das aulas assuma, por vezes, o cenário principal delas.

A dificuldade em me manter “preso” ao Jornal do Aluno me leva a extrapolá-lo na maioria das vezes. Os alunos gostam, participam e se envolvem em discussões. Fazem perguntas e querem saber mais. Isso não se deve a algum “defeito do Jornal do Aluno”, mas sim ao fato de que qualquer material didático é limitado e pobre. Por outro lado, deixa claro que qualquer currículo é sempre uma “proposta sujeita a mudanças ao longo do percurso”.

A avaliação contínua dos alunos têm mostrado que a quantidade deles que apresentam sérias dificuldades posturais (isto é, que não compreendem muito bem o papel deles como “alunos”) é grande. Porém, mudanças de hábitos e atitudes, ganho de autonomia, melhora da auto-estima e da disposição para a produção inidividual têm sido observadas e são gratificantes. Alguns alunos se surpreendem com sua própria capacidade ao verem seus próprios resultados. Outros ainda não conseguem crer que sejam capazes e procuram meios de “obter resultados” sem o compromisso de produzí-los.

Permitir que todos avancem, quando os grupos são heterogêneos e grandes, é uma tarefa que requer um acompanhamento quase individual. Tarefa difícil em classes cheias. E muito mais difícil ainda se se exigir um registro muito burocrático dessas avaliações contínuas que o professor têm que fazer ao longo de suas aulas.

Uma coisa é observar atentamente os alunos e ajudá-los, passo a passo, a obterem melhores resultados; outra coisa bem diferente é fazer tudo isso com um caderninho na mão onde se deve fazer anotações sobre a evolução de cada aluno a fim de que algum burocrata possa guardá-las em alguma gaveta que ninguém abrirá. Tenho discutido isso com os colegas nos HTPCs, mas parece que alguns acreditam ainda que o foco dessas aulas é o registro das avaliações e não a aprendizagem dos alunos. O resultado desse foco desfocado é a produção de números fictícios sobre uma aprendizagem que não houve e a perpetuação de uma situação fantasiosa que só assume os horrores da realidade quando saem os resultados do SARESP.

No período noturno ainda estamos lutando contra a baixa freqüência das sextas-feiras. Comportamento estranho e generalizado: os alunos instituíram que as sextas-feiras podem ser emendadas no final de semana. Geralmente conseguimos resolver isso nas primeiras semanas do ano, mas até agora ainda temos algumas turmas (geralmente de primeiros anos) que apresentam de 40 a 60% de faltas nas sextas-feiras.

Nessa quinta semana que se inicia devo começar a pensar em como dar um fechamento a essas atividades de recuperação. Vamos ver…

Para saber mais…

março 11, 2008

Não custa nada lembrar a todos que além desse meu blog também temos outros dois blogs (por enquanto) ajudando a complementar os materiais do Jornal do Aluno e dando dicas e novas informações sobre os temas estudados: o blog do professor Helder e o blog do professor Gonçalo.

Se você não os visitou ainda, clique aí nos links e visite.

Terceira semana (Relato do professor)

março 11, 2008

A terceira semana foi curiosa, no mínimo. Agora é que começam a se desenhar as particularidades de cada turma e que todos começam a se “adaptar”, ou não, ao tipo de cobrança que estão tendo e ao tipo de “curso” que esta sendo oferecido a eles.

Embora eu tenha muitos alunos que visitam o meu site, esse blog e os blogs recomendados nele (do Helder e do Gonçalo), ainda tenho muitos alunos que não se interessaram por eles. Na verdade continuo tendo muitos alunos que não conseguiram se desprender de uma cultura de “desinteresse” alimentada pela falsa crença de que a escola seja apenas um lugar para passar o tempo (crença essa que foi plantada e regada na escola pública, e continua sendo, desde o advento da progressão continuada – embora não seja uma decorrência necessária desta). Essa é uma batalha difícil e que parece bem distante de muitos teóricos que imaginam que o professor só precisa de um “pouquinho de boa vontade” para fazer com que seus alunos “desejem” aprender.

Nessa terceira semana dei especial atenção ao acompanhamento dos alunos no que se refere a forma como eles têm encarado as atividades e as tarefas. É curioso como a maioria deles não se mostrou muito empolgada com o material (o Jornal do Aluno), apesar do material ser bom. Muitos têm dificuldade de compreender os textos e as instruções, apesar de serem relativamente simples, e uma grande maioria não consegue ainda trabalhar de forma autônoma. Poucos têm interesse em colher informações complementares, apesar delas estarem sendo oferecidas e estimuladas.

A discussão das atividades e das tarefas tem sido um momento importante de aprendizagem, tanto porque é quando os alunos têm um feedback sobre o que fizeram, quanto porque é quando tenho a oportunidade de acrescentar meus comentários e complementar o material de que eles dispõem. Via de regra eles gostam desses comentários e ficam motivados.

O fato dos alunos demonstrarem interesse pelos comentários das atividades e tarefas tem um lado incompatível com a idéia de “programação aula-aula” do Jornal: não há tempo hábil para se extender em comentários e complementações e, ao mesmo tempo, dar conta do arroz com feijão proposto no Jornal do Aluno. Os tempos não foram corretamente estimados, pelo menos não para mim.

Outro fator complicador é que grande parte dos alunos não sabem trabalhar em equipe e mais se atrapalham (dispersam) do que se ajudam. Esse comportamento dispersivo varia de turma para turma, mas é um comportamento generalizado que reflete uma idéia errada de que eles não têm autonomia e que devem sempre aguardar que o professor lhes diga exatamente o que fazer a cada passo. Ler as instruções, as perguntas e os textos de apoio não faz parte da rotina da maioria dos alunos. Essa é outra batalha longa a ser travada.

Uma estatégia que tem dado certo é a criação de atividades (ou dinâmicas) que exigem a participação de todos, ora como uma forma de competição entre fileiras, ora como desafios coletivos. Essas atividades (ou dinâmicas) são excelentes, mas demandam tempo também e, mais uma vez, os autores do Jornal parece que calcularam o tempo de aula como um contínuo em que todos os alunos estão profundamente interessados em ler os textos, comentá-los e fazer as atividades. Isso é uma utopia bem distante da realidade da minha escola.

Outro fator que tem atrapalhado é a divisão das aulas em cada turma. Como só tenho duas aulas semanais e essas nem sempre são “duplas”, a cada aula é preciso refazer toda a parte burocrática referente à chamada nominal, verificação de tarefas e registro de atividades. Além disso, há ainda o tempo de acomodação inicial da sala e o tempo de descrição das atividades do dia. Pode parecer que não faz muita diferença, mas é só estar dentro da sala de aula para se saber que faz muita diferença.

Fecho a terceira semana com um atraso médio de duas aulas em relação à programação do Jornal do Aluno. Atraso que varia de classe para classe. Espero que nas próximas semanas seja possível determinar melhores estratégias para melhorar o rendimento das turmas com maiores dificuldades.

Em tempo: os textos produzidos pelos alunos denotam grandes dificuldades de expressão, considerando que são lunos do Ensino Médio. Muitos poderiam ser classificados como “analfabetos funcionais” e, por isso mesmo, espero que essa ação conjunta de todas as disciplinas colabore para o letramento dos alunos. A parte chocante disso é que os próprios alunos não podem ser culpados por estarem no mínimo a oito anos na escola e ainda não conseguirem se expressar de uma forma aceitável. A culpa é da escola (de todo o sistema), sim senhor, mas deixemos essa análise para outro tempo e outro espaço.

Destaco com alegria que a maioria dos alunos dos segundos e terceiros anos têm trabalhado bem com gráficos e tabelas. Já no que diz respeito à resolução de equações e cálculos aritméticos, ainda que simples, os problemas tendem a requerer soluções a médio prazo e exercícios de fixação.

Segunda Semana (relato do professor)

março 1, 2008

Nessa semana pude acompanhar mais detalhadamente a forma como os alunos lidaram com os desafios propostos na semana anterior.

Nas primeiras séries os alunos tiveram como tarefa de casa, na semana anterior, efetuar três medidas: o comprimento de seus pés, a distância de suas casas até a escola e, finalmente, a medida do diâmetro de uma laranja. Foi-lhes explicado, na época, que essas tarefas estavam sendo propostas para que eles “descobrissem” a melhor forma de efetuar cada medida.

Conferindo os resultados obtidos por eles e comparando esses resultados entre todos os alunos (cerca de 200 alunos) podemos agrupá-los em três grupos:

1 – o grupo dos alunos que efetivamente não realizaram a atividade e que, no máximo, copiaram resultados dos outros colegas simplesmente para poderem apresentar uma “tarefa feita”;

2 – o grupo dos alunos que realizaram a tarefa a contento e descobriram formas válidas de solução para cada problema proposto e;

3 – o grupo dos alunos que ou não compreenderam a tarefa, ou parte dela, ou que a realizaram por um meio inadequado.

No grupo 1 situa-se um número considerável de alunos (entre 10 e 30%) que têm, por tradição no Ensino Fundamental, “apresentar resultados” para obter nota e não compreendem a necessidade de realizarem eles mesmos as tarefas. Esse comportamento decorre, provavelmente, da cultura de “resultados” imposta pela necessidade de “notas”, pela facilidade com que se pode trapacear na entrega de tarefas e assumir a autoria de algo que não lhes pertencem e, principalmente, pela forma com que vêem cultivando esses comportamentos ao longo do Ensino Fundamental com a conivência dos professores.

No grupo 2 temos um número de alunos comparável ao do grupo 1, entre 10 e 30% da sala, variando de sala para sala. Esses alunos foram capazes de realizar as tarefas propostas e explicar a forma como o fizeram.

No grupo 3 temos a maioria dos alunos (um número entre 40 e 80%). Esses alunos ou fizeram as tarefas de forma parcial, ou cometeram enganos (pequenos ou grandes) ou, ainda, compreenderam errado as instruções sobre o que lhes foi solicitado.

Os três grupos foram contemplados na discussão da atividade em classe e, por brevidade, vou me ater apenas aos problemas, curiosidades e soluções encontradas:

– medida do pé: apesar de todos os esclarecimentos iniciais sobre a tarefa, alguns alunos (muito poucos) ainda assim confundiram a medida do comprimento do pé com o número do calçado que usam. Os próprios alunos fizeram a verificação da validade do resultado que obtiveram usando para isso a fórmula proposta na Revista do Professor para o cálculo do número do calçado em função do comprimento do pé (o blog do professor Helder, linkado ao meu, também destacou uma forma alternativa de se verificar o número do calçado em função do comprimento do pé). Não houve dificuldade na execução da medida e quase todos usaram régua (alguns poucos usaram fita métrica);

– medida (estimativa) da distância de casa até a escola: as soluções empregadas foram várias e incluíram desde o uso de programas de computador (como o Google Earth e o próprio site do Google Maps) até a contagem dos passos, passando por soluções como a contagem de “postes” no trajeto, de quarteirões e, como não poderia faltar, o uso de medidores associados a veículos (hodômetros de carros e motos). Com poucas exceções os resultados foram compatíveis com o grau de imprecisão do método utilizado e isso foi discutido em classe junto com a discussão da necessidade de escolha adequada do instrumento de medida e da unidade para representá-la;

– medida do diâmetro de uma “laranja pêra”: essa foi a proposta que gerou as soluções mais criativas e que acabou esbarrando em um problema bastante comum entre os alunos – a transposição do conhecimento matemático para as aplicações físicas. As soluções encontradas pelos alunos incluíram cortar a laranja ao meio para facilitar a medida, usar a projeção de retas perpendiculares às bordas da laranja sobre uma régua, fazer o traçado da circunferência da laranja sobre papel e a subseqüente medida do diâmetro e, por fim, a medida do comprimento da circunferência da laranja para o cálculo de seu diâmetro. Cabe ressaltar que esse último método foi o único em que todos os alunos que o escolheram erraram grosseiramente os resultados.

O curioso sobre o erro do cálculo do diâmetro da laranja usando-se a medida do comprimento de sua circunferência está no fato de que a maior parte dos alunos que usaram esse método recorreram aos professores de matemática ou aos pais (pouquíssimos casos) para consulta sobre o que fazer e obtiveram deles a proposta de solução. Os alunos mediram corretamente o comprimento da circunferência da laranja mas, enquanto alguns deram esse comprimento como resposta, como se ele fosse o próprio diâmetro, outros multiplicaram esse comprimento pelo número “pi” e obtiveram um comprimento ainda maior. Ninguém dividiu o comprimento da circunferência pelo número “pi”, como deveria ter sido feito da forma correta. Também chama a atenção o fato de que resultados encontrados pelos alunos nesses casos, como “24 cm de diâmetro”, não despertaram nesses alunos nenhuma desconfiança de que isso só poderia estar errado. Eles parecem mais estarem habituados a aceitarem os resultados das contas, mesmo que erradas, do que a verificarem se esses resultados têm algum sentido.

Os textos produzidos pelos alunos referentes à apresentação “Uma visita ao Universo”, e relacionados às diferentes escalas de tamanho, serão analisados na semana que vêm.

Com relação aos segundos e terceiros anos, foi proposto como tarefa de casa na semana anterior uma pesquisa sobre radares e sobre animais que utilizam sistemas de ecolocalização. Além disso, eles deveriam calcular o tempo necessário para um veículo cruzar uma lombada eletrônica no limite de velocidade permitido (40 km/h – fornecido no problema) e concluírem sobre o comportamento da velocidade para tempos de cruzamento maiores e menores do que o tempo encontrado.

Assim como os alunos dos primeiros anos, os dos segundos e terceiros também se dividem em grupos dos que “não fazem”, “fazem de forma parcial ou imperfeita” e dos que “fazem conforme o desejado”. A diferença é que a proporção do grupo 2 é maior entre os terceiros anos, seguido pelos segundos anos; o que denota que a experiência deles como alunos em anos anteriores, durante o Ensino Médio, mudou o comportamento de muitos deles com relação à realização de tarefas.

Pontos importantes a serem destacados nos segundos e terceiros anos são:

– ainda há muitos alunos que entendem por “pesquisa” a mera coleta de informações, sem a necessária análise ou compreensão das mesmas. Assim, foram vários os alunos que “copiaram, colaram e imprimiram” os textos encontrados na Internet sobre radares e sobre animais que utilizam o sistema de ecolocalização. Aqui também podemos incluir um número não desprezível de alunos que copiaram os textos da Internet “no caderno”, ao invés de apenas imprimi-los. Felizmente um número razoável de alunos já compreendeu que é preciso interpretar os dados colhidos e formular resultados na forma de um resumo pertinente ao que foi solicitado. Os alunos que não o fizeram dessa forma foram convidados a fazê-lo para que a tarefa pudesse ser considerada executada. Na semana que vem faremos a análise dos textos produzidos.

– o cálculo do tempo de percurso entre os sensores da lombada eletrônica apresentou erros bastante comuns e difíceis de serem “corrigidos” por terem se tornado habituais ainda no Ensino Fundamental. Esses erros incluem: uso de unidades de medida incompatíveis; não partir da expressão utilizada para o cálculo (a fórmula); não organizar a resolução de maneira que a mesma obedeça às regras matemáticas de notação; erros no próprio processo de resolução (como multiplicar onde se deveria dividir, por exemplo); falta da indicação da unidade de medida na resposta e, por fim, indicação de uma unidade de medida incorreta. Todos os alunos tiveram acompanhamento individual na verificação de suas resoluções e receberam instruções sobre como evitar esses erros futuramente.

– a construção do gráfico vXt para um deslocamento fixo, proposta no Jornal do Aluno, foi uma das atividades que apresentou menor dificuldade pelos alunos. Isso se deve, provavelmente, ao fato dos alunos terem trabalhado em grupos e de que esses gráficos estão sendo trabalhados de forma simultânea por outras disciplinas, fato corroborado pelas expressões de alguns alunos que, após compreenderem o que deveriam fazer, exclamavam: “ah, é como na matemática!”. Ao que eu invariavelmente respondia: “não, não é ‘como’ na matemática, isso É matemática!”.

Por fim, vale notar também que o número de downloads do Jornal do Aluno, parte de Física, feito no meu site corresponde a cerca de 45% do total dos meus alunos, embora nem todos os downloads devam ter sido feitos pelos meus alunos. O fato é que muitos têm usado o meu site e esse blog (e o blog do professor Helder) para obterem informações adicionais e para manterem-se em dia com suas atividades.

Outro fato que também colaborou, e muito, nessas duas primeiras semanas foi o uso do datashow como ferramenta auxiliar. Fatos negativos (em termos) que atrapalharam um pouco meu trabalho foram as confusões rotineiras de horário (horários mutantes nessas primeiras semanas) e alunos que só retornaram agora das férias e estão defasados em relação aos colegas, exigindo maior atenção da minha parte.

As tarefas, instruções e atividades que os alunos farão na próxima semana estarão disponíveis no meu Diário de Classe Online, no meu site, a partir da segunda-feira pela manhã (como sempre).

Primeira semana (relato do professor)

fevereiro 24, 2008

Na primeira semana de aula, de 18 a 22/02, tivemos uma semana bastante agitada. Algumas classes não tiveram aula de física por causa da distribuição dos kits de material didático, em outras tivemos apenas uma das duas aulas e, por fim, nas classes que tivemos duas aulas também foi necessário usar uma dessas aulas para apresentar o curso, o professor, o Jornal do Aluno, as regras de convivência, os critérios de avaliação e os recursos didáticos disponíveis, incluindo o site do professor. Resumindo: onde deu para iniciar o trabalho com os conteúdos isso foi feito, onde não deu será feito a partir da segunda semana.

Nas classes onde foi possível iniciar o conteúdo (alguns segundos e terceiros anos) iniciamos o trabalho referente às aulas 1 e 2. Foi apresentada aos alunos uma página da empresa Perkons S.A. que produz lombadas eletrônicas e que contém muitas informações interessantes sobre o funcionamento dessas lombadas.


Também aproveitei para rever o conceito de velocidade média com eles e a conversão entre km/h e m/s. Muitos alunos não se lembravam mais disso. Alguns tiveram dificuldades para resolver equações simples do tipo [2 = 4/x] e também tivemos que revisar isso brevemente. Não deu tempo de construir o gráfico proposto ( v X t com deslocamento constante), mas deu tempo de propor uma questão que lida conceitualmente com o conceito de grandeza inversamente proporcional.

Além das lombadas eletrônicas também vimos um pouco sobre o funcionamento dos radares (e como os morcegos utilizam um sistema semelhante – tecnicamente um sonar – para se orientarem nas cavernas). Os alunos parecem ter gostado bastante da aula.

Já nas primeiras séries, onde houve tempo, iniciamos a apresentação multimídia “Uma visita ao Universo”, discutindo diferentes escalas de tamanho, fazendo algumas comparações entre velocidades e recordando um pouco sobre potências de dez e prefixos (referentes aos múltiplos da unidade).

As apresentações multimídia e todo o material de apoio utilizado estão e sempre estarão disponíveis na Biblioteca Online do meu site, sempre no início da semana em que serão usadas.

Vejamos como as coisas andarão na segunda semana.